segunda-feira, 27 de junho de 2011

COMO UMA IGREJA PODE CONSAGRAR UMA PASTORA APESAR DA BLINDAGEM DA OPBB

Depois da Assembleia da OPBB em Florianópolis, SC, em 2007, A Ordem tomou algumas decisões que blindaram o caminho das mulheres vocacionadas, não somente para o seu ingresso na OPBB, como também, mais grave ainda, para a sua consagração ao ministério pastoral por uma igreja local.

Em que consiste essa blindagem da OPBB?

1. A OPBB decidiu que a emissão das carteiras dos pastores seria pela sua administração nacional, o que chamarei aqui de OPBB nacional. Até então as OPBBs estaduais/regionais emitiam as carteiras. Assim, foi possível as pastoras filiarem-se à OPBB naquelas secções que aceitavam pastoras. São essas pastoras que hoje podem ter a carteira da Ordem porque tiveram seus direitos adquiridos reconhecidos pela assembleia da OPBB em Cuiabá, em 2010. Hoje isso não é mais possível, inclusive nos locais onde as secções aceitam pastoras.

2. A OPBB proibiu as suas secções de participarem do concílio de pastoras, com o risco de que seus executivos fossem encaminhados para a comissão de ética. O que isso significa na prática? Os executivos das secções fizeram a leitura, conveniente, de que os pastores não poderiam participar de concílio de pastoras e não a instituição, isto é, a secção oficialmente. Então eles orientam os seus pastores a não participarem e alguns até os ameaçam de os conduzirem à “inquisição”, digo, as comissões de ética da Ordem.

3. A orientação da OPBB é que as igrejas, quando decidem consagrar um candidato, peçam à secção da Ordem a organização do concílio. Então o que acontece? As igrejas quando querem ordenar uma pastora solicitam a participação da secção da Ordem que, ainda que concorde com a ordenação de pastoras, está proibida de examinar candidatas. Isso significa que os concílios de mulheres estão suspensos em muitos lugares do país aguardando a decisão da Ordem.

4. A OPBB insiste em não mencionar as pastoras em suas publicações, estatísticas e convocações. A justificativa é que as pastoras serão tratadas da mesma forma que os pastores. Como assim? Se fosse assim, se as pastoras fossem tratadas da mesma forma que os pastores, todas poderiam ingressar na Ordem. Insistir em não usar linguagem inclusiva, em não registrar a presença das pastoras é uma manobra para ignorar a presença e contribuição do ministério pastoral feminino na obra batista e retardar a decisão do ingresso das pastoras. Na última Assembleia, em Niterói 2011, a OPBB nacional retirou no vídeo que foi vendido da mensagem oficial, o trecho em que o Pr. Carlito Paes falava de pastoras e não permitiram que no Regimento o termo “pastora” fosse inserido. A linguagem inclusiva é necessária neste momento.

O que igrejas e mulheres vocacionadas ao ministério pastoral podem fazer:

1. Apesar de entendermos o cuidado da Ordem com a qualidade do ministério pastoral batista, a ordenação de candidatos ao ministério pastoral é decisão da igreja, que é autônoma para assim fazer. Então, se a secção não quer participar do Concílio, a igreja mesmo pode promovê-lo sem que com isso esteja infringindo normas e ela não pode ser ameaçada por isso, isto é, de que será excluída da Convenção e etc. Isso não acontecerá.

2. Os pastores são livres para participar de concílios de pastoras. Não há, e nem poderia haver, nenhuma decisão da CBB ou OPBB que proíba um pastor de participar do concílio de uma pastora. Quem está proibida é a secção da OPBB como instituição e não os pastores que são livres, como realmente têm que ser. Então a igreja deve fazer os convites particularmente a cada pastor que ela deseja que esteja no concílio e esclarecer o que for necessário.

3. A CBB, em parecer aprovado em diversas assembleias, reconhece que a ordenação de pastoras é uma decisão da igreja local. Isto é, se uma igreja quer ordenar uma mulher para o ministério pastoral ela é livre para assim fazer, sem que esteja infringindo nenhuma norma ou esteja deixando de ser uma igreja batista como é o argumento ameaçador em muitos lugares do Brasil. A única questão é que esta pastora, por enquanto, não será filiada à OPBB, que ainda não aceita pastoras.

4. Se possível, quando for ordenar uma pastora, a igreja deve observar os critérios estabelecidos pela OPBB e CBB. A CBB tem publicado um livreto que dá todas as orientações. Para ser filiada à OPBB no futuro, caso queira, a pastora precisará estar com seu processo em acordo com as orientações, inclusive a ata do concílio assinada por sete pastores que tenham registro da OPBB. Então, quando possível, seria bom que os documentos estivessem de acordo com as normas estabelecidas pela CBB e OPBB para um futuro ingresso na OPBB.

Já temos mais de 100 pastoras nas igrejas das CBB e muitas candidatas esperando o momento que julgam oportuno, isto é, esperam a aprovação pela OPBB da filiação de pastoras, na maioria dos casos porque suas igrejas e seus pastores não querem causar nenhum constrangimento com as OPBBs regionais/estaduais. Infelizmente, a OPBB nacional se prevalece do respeito e consideração das igrejas para protelar essa decisão e querer impor preconceitos, com roupagem de interpretação bíblica, no ministério pastoral batista.

Que igrejas, pastores e mulheres chamadas por Deus sejam corajosos neste tempo para fazer prevalecer a vontade de Deus. Que rompam barreiras, fortalezas e obedeçam a vontade de Deus

(Pastora Zenilda Reggiani Cintra, maio/2011, , http://pastorazenilda.blogspot.com/ )

domingo, 12 de junho de 2011

Discernimento e Espiritualidade: O Pastor(a) como artesão(ã) das temporalidades

   Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto. Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus. Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós. Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados.De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestuário.Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me serviram.Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.” (Atos 20:24-35)
            A luz do texto acima somos levados a refletir sobre o real significado e abrangência do ministério pastoral. Muitos são os desafios e possibilidades que surgem na caminhada daqueles(as) que são chamados por Cristo a exercerem sua vocação pastoral em um mundo cada vez mais cheio de crises, dúvidas, medos e incertezas. È justamente neste contexto que o apóstolo Paulo se depara ao ter que anunciar sua partida e deixar aquelas pessoas tão amadas por ele.
            A história é algo que me fascina porque ela é construída junto com o tempo, através do tempo e para um determinado tempo. Ainda que o texto bíblico tenha sido produzido em um tempo específico, o mesmo nos deixa diretrizes que rompem com as barreiras culturais da época e nos alcançam na medida em que homens e mulheres se permitem mergulhar nas escrituras e as deixam falar por si mesmas.
            Em nossa jornada ministerial, muitas vezes nos sentimos como se estivéssemos sempre de partida e nos despedindo de quem mais amamos. Entretanto, muito mais do que a partida, considero a caminhada mais significativa neste processo de construção do ser pastor(a). O ser pastor(a) não se aprende nos bancos das cátedras, nas torres de marfim ou nos monastérios isolados do mundo e dos relacionamentos. Muito mais do que a titularidade, eu quero a simplicidade da espiritualidade do Cristo encarnado. Simplicidade do qual muitos tem perdido em sua jornada ministerial. Que sigamos os preceitos de Paulo neste texto se de fato encaramos o ministério pastoral como uma expressão do cuidado de Deus por seu povo.
            Em um mundo que gradativamente tem perdido seus valores e que apregoa que não há nada em que se confiar, temos o desafio de continuar pregando a Palavra de Deus. Numa geração analfabeta das Escrituras, que vive em busca de revelações, profetas e ungidos, Deus  continua chamando homens e mulheres para permanecermos firmes em sua palavra e não nos tornarmos vendilhões do templo.
            O ser pastor(a) precisa ser conduzido com destreza e escrito nas entrelinhas de cada folha em branco que recebemos de Deus. O que dá sentido em uma frase são os espaços existentes entre elas. Se compreendermos que somos chamados para servir e não para nos tornarmos messias, ainda que as turbulências pastorais surjam e elas aparecem mesmo, entenderemos que no seguimento de Cristo somos coadjuvantes e não protagonistas do Reino de Deus. Precisamos tecer nosso ministério arraigado em Cristo e na sua revelação para desenvolvermos à pastoral com dignidade, temor, graça, misericórdia e sensibilidade. A paz para todos e todas que são comissionados(as) por aquele que amou primeiro. Shalom!
                                                                                                         Marco Antônio
                                                                                            “Reforma sempre reformando”

segunda-feira, 6 de junho de 2011

DIA DO(A) PASTOR(A) - CREDO DE UMA PASTORA

Pra. Silvia Nogueira

Pra. Silvia ministrando a Ceia do Senhor
Nunca é um tempo fácil ou bom para ser igreja no sentido mais rico dessa palavra. No entanto, sabemos que é o tempo presente o lugar da nossa experiência religiosa e, este tempo, em particular, tem seus ímpares desafios para quem se diz cristão. Por que? porque o homem mudou. E a “casa” onde ele mora também. As pessoas olham para a religião com desconfiança, com arrogância, com desespero e, somente alguns poucos, a consideram como algo bom (e útil) para o indivíduoe para a sociedade. E é em meio à desconfiança na religião, ao esvaziamento do valor de viver em comunidade, ao estabelecimento de uma “religião” do mercado, que somos convocados(as) – e acreditamos que o Sagrado ainda tem interesse no trabalho conjunto conosco – a viver a vocação para a vida religiosa.
Nós, que abraçamos a vocação pastoral, escutamos muitas vezes sobre a dificuldade dos nossos ministérios. Alardeiam uma quantidade significativa de vozes sobre o “peso” que existe em cuidar saudavelmente de vidas e em lidar com a fé de irmãos e irmãs. Enfatizam o sacrifício pessoal em detrimento aos desejos e sonhos da comunidade que muitos de nós realmente realiza. No próximo domingo, celebraremos o dia do pastor(a) e podemos correr o risco de concentrar nossa reflexão nesse aspecto de nossa caminhada. Sem dúvida, o seguimento do Cristo é desafiador e cheio de turbulências como ele mesmo aponta no final das bem-aventuranças: Bem aventurados sois vós se vos perseguirem e vos injuriarem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa...Mt 5, 11 , ou ainda o comentário do pregador e pastor Paulo, a respeito do ministério: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo...que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação que nós mesmos somos consolados de Deus. 2Co 1,3-4. Ministério pastoral é realmente desafiador, mas também é algo maravilhoso.
E é no “maravilhoso” que devemos fixar os olhos, abrir os ouvidos e apaziguar o coração. Quando dizemos sim para a vocação que Deus nos oferece, Ele vai nos dando os instrumentos de superação para cada etapa da nossa caminhada. Creio tão fortemente nisso! Creio que faz parte da vocação não saber tudo, nem enxergar tudo e, no entanto, caminhar em direção àquilo que Deus quer para cada um de nós, como indivíduos únicos. Creio que Deus usa a boca dos pequeninos para moderar nossa arrogante sabedoria. Creio que sempre quando nosso afeto e solidariedade com aqueles que sofrem está em baixa, Deus volta a nos comover. Creio, ainda, que é por causa de Jesus, Supremo Pastor, que quando somos fracos aí é que somos fortes.
Um abençoado dia do Pastor(a).